2020
Moon Gate
Ribeira de Oleiros, Oleiros
A Ribeira de Oleiros, em particular na zona da Torna, destaca-se na paisagem de Oleiros pela continuidade das qualidades estéticas impressas ao longo dos tempos na modelação desta unidade de paisagem rural. Destaca-se o equilíbrio entre as escassas intervenções humanas, essencialmente de controle das águas e das margens, e a justeza das espécies arbóreas, freixos e choupos, que assim qualificam de forma coesa a diversidade de perspectivas longo da linha de água.
Na sequência de Obras de Arte na paisagem que definem o início da Rota da Cortiçada, Moon Gate ocupa um lugar de nomeação geográfica inequívoca: a linha de água no espaço rural.
Numa paisagem de transição, entre a Vila e os campos, a Torna destaca-se pelo seu carácter coeso e equilibrado de ajuste entre a natureza e a modelação humana; nesse sentido, é um espaço que propicia o repouso e a contemplação numa escala humanizada. Assim, a identidade do lugar da Torna define-se como elemento de síntese da paisagem trabalhada pelo homem e como transição entre o aglomerado e os territórios abertos com perspectivas monumentais como as cumeadas e a crista do Zebro.
A obra Moon Gate tem como ponto de partida esta aproximação ao lugar da Torna, como fenómeno físico, real e tangível e, simultaneamente, como lugar percepcionado de entendimento da intervenção humana na paisagem. Um lugar de excepção que remete para o fascínio da natureza modelada e trabalhada, em que o controle humano, tal como num jardim oriental, propicia o deleite e o mistério.
Finalmente, o contexto particular da encomenda das 3 obras de arte na paisagem – de sinal sobre desertificação do interior e necessidade da sua reapropriação humana – estrutura, em cada caso, um processo de procura de integração da paisagem humana. No lugar da Torna procura-se evidenciar a intencionalidade humana na modelação da paisagem. Através da colocação da obra Moon Gate evidencia-se o carácter contemplativo sobre a paisagem humanizada, acrescentando o carácter de representação da “paisagem natural”.
Esta procura de um entendimento “paisagem natural “ e da “paisagem transformada” poderá remeter para a percepção da “contemplação e mistério” e das memórias e relatos do encontro de António de Andrade com algumas das paisagens do Oriente. Um encontro com o diferente em que o jesuíta se impressiona com a desertificação humana (“é ser gente a menos”), com a escassez agrícola mas também com lugares maravilhosos como a cascata de Srinagar, como que sugerindo um reencontro com o interior de Portugal no Oriente.
Eventualmente, talvez a forma, a cor e as texturas definidas – um círculo âmbar intencionalmente enquadrado e estrategicamente colocado – evoque a entrada num jardim distante. Assim, de alguma forma, procura-se que Moon Gate concorra para uma reapropriação do lugar e das memórias pelos habitantes e pelos que exploram a região.
Ficha Técnica
Projecto: MAG – Marta Aguiar, Mariana Costa – com Sofia Marques de Aguiar
Estrutura Metálica: AJinox
Montagem: FactorCorda
Projecto de Estrutura: Eng. Vaz Tomé
Video and photography: Nectar filmes
organizado com: